Category Archives: Demandas da minha fazenda

Uma característica marcante em Minas Gerais é a de que todo mineiro, mesmo aquele nascido e criado em cidade grande, costuma guardar uma relação próxima com o interior. Às vezes são os familiares que vivem ou viveram “na roça”. Outras vezes, o ritmo tranquilo das vilas pequenas, que serve de refúgio para se esconder da correria e do estresse do cotidiano das grandes cidades – quando os sítios e fazendas se tornam o destino para as escapadas durante finais de semana ou feriados. Seja qual for o motivo, é fato: os elementos “da roça” forjam o imaginário do mineiro, marcando presença especialmente nos “causos”, uma maneira bem interiorana e bem mineira de contar a história e as estórias do estado.

Monstros que há séculos pairam pelas montanhas de Minas, ameaçando a paz e a tranquilidade dos moradores do campo, seguem à solta pelos grotões. São lobisomens que aterrorizam as galinhas, diabos que desafiam a fé dos bons moços e moças, vampiros que atacam o gado na calada da noite… Quem frequenta o interior sabe: todos eles estão soltos por aí e volta e meia surge o “causo” do filho da prima do vizinho que ôtro dia, menina, cê num vai nem acreditá, tava chegando em casa quando oviu um barulho muito estranho vino do quintal. Foi pegá a lanterna com as perna tremênu igual a vara verde, vortô pra fora e começô a forçá os óio pra vê o que era que tava fazênu o baruio numa hora daquelas da noite. Quando conseguiu finarmente firma os ói, num pôde crê nu que via. Bem na frente dele tinha um

São esses “causos”, parte fundamental da cultura mineira, que Felipe Abranches celebra em sua série de gravuras “Demandas da Minha Fazenda”. Cada uma das gravuras foi feita seguindo a velha fórmula para se contar um “causo”: um pouquinho de real acrescido de tudo aquilo que a imaginação mandar. No caso das cenas gravadas por Felipe Abranches, o toque realístico fica por conta da inspiração nos animais da fauna local, que ganham formas humanas e contornos grotescos. A série, como todo bom “causo”, deve ser apreciada com calma e com crença no narrador.