Tropeiragem

“Tropeiragem” dá continuidade à representação do aspecto terreno/carnal dentro do tríptico “Chica Dona”. Se em “Cerrado” o lobo-guará, a raiz e a mulher remetiam às coisas terrenas, agora elas se expandem e ocupam todo o quadro, dominado pela representação do trabalho por meio da atividade tropeira.

O burro, um animal mestiço fruto do acasalamento de asno e égua, aparece mais de uma vez na obra, representando ao mesmo tempo o trabalho pesado e lembrando a miscigenação do nosso povo. É acompanhado por figuras humanas, trabalhadores, que assim como ele labutam pesado e são filhos da mistura de cores e de crenças. Filhos dos desiguais, herdaram aquilo que de mais robusto seus progenitores possuíam.

A ideia inicial de Abranches era usar os tropeiros para produzir uma série temática. Entretanto, durante o processo de composição de Chica Dona, o artista decidiu por resgatar a cena e inseri-la como um dos terços da obra. Essa mudança de planos só aconteceu depois de o artista conceber a ideia para a terceira gravura do tríptico, “Cachoeira”.

Para criar a composição, Abranches decidiu por fundir as linhas do horizonte. Assim, no último plano, a paisagem rala do cerrado vai, aos poucos, dando lugar ao relevo íngreme das montanhas de “Tropeiragem”.